segunda-feira, 6 de abril de 2009

A História (Parte 1)

Por muito tempo na minha adolescência me senti o patinho feio da família. Não me parecia fisicamente nem com minha mãe e nem com meu pai. Achava que eu pensava diferente de todo mundo e que ninguém me entendia. Mais do que normal. Hoje vejo as coisas de outro jeito, claro. Mas nessa busca incansável que eu fazia para encontrar semelhanças com minha família pude analisar bem de perto como essas diferenças já eram enfim, a formação da minha personalidade. A explicação para a balança que tudo pesa e a instabilidade emocional já acentuada pelo meu signo estava justamente aí. Venho de apenas um sobrenome. Até hoje não sabemos de fato se meus pais têm algum parentesco distante por terem o mesmo sobrenome. Sei apenas que vim de duas famílias e realidades totalmente opostas.
Minha mãe é a filha do meio de cinco irmãos. Meu avô era mecânico e minha avó fazia doces e bordados para fora. Lembro que minha avó era uma pessoa muito incisiva, de gênio indomável e meu avô sempre tão introspectivo, calmo. Com certeza minha mãe puxou muito mais para minha avó. Costumo pensar que é a família de pedra. De trabalhadores incansáveis e por de mais racionais. Família temerosa ao escândalo, ao exótico, com costumes tradicionais e rigidez traumatizante. Família de jornalistas, mecânicos, professores, desenhistas, costureiras. Profissionais liberais, mas seguros. Família humilde com gostos clássicos incompreendidos. Meu avô, mesmo não tendo se dedicado a uma vida intelectual sabia conversar sobre todos os assuntos e só ouvia Beethoven, Mozart, Bach. Admiro ninguém ter achado isso estranho. Espíritas, ora católicos. Lembro de ouvir da sala, minha avó rezando o terço todas as noites em que eu estava na sua casa. Ficava com a luz apagada e a porta entreaberta, rezando bem baixinho. Ela era uma pessoa especial para mim, e eu para ela. Todo mundo da nossa família dizia que eu era a única neta que ela tinha mais apego. Nem por isso me tratava diferente de ninguém, tinha muita dificuldade em fazer carinho em alguém, era tão dura. Eu também. A família toda parece um vulcão, que guarda seu lado quente bem lá no fundo e sempre parece que está prestes a entrar em erupção.

1 comentários:

Nine disse...

Que bacana sua história (e é só a parte 1!!!), muito legal a gente rever traços e histórias passadas da nossa família, e tentar assim, compreender melhor nossa própria história!!! São os primeiros tijolos da construção que nos tornamos hoje.

Beijão!!!

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